Conheça a relação entre obesidade, diabetes e alterações hormonais nas mulheres

Obesidade, diabetes e alterações hormonais nas mulheres

A obesidade e o diabetes — e, com ele, o risco de desenvolver pressão alta e outras doenças cardiovasculares — estão intimamente relacionados. Entre as mulheres, o ganho de peso pode também induzir outras alterações https://sbendometriose.com.br/conteudos/ aumentam as chances de complicações. Saiba por quê.

Disfunção hormonal

Em condições normais, a glicose obtida pela alimentação, sob ação da insulina, é integrada às células para “trabalhar” em prol do organismo. No entanto, à medida que entra em cena a obesidade, substâncias inflamatórias produzidas graças ao aumento da gordura interferem na sinalização que o corpo dá para a ação da insulina. Consequentemente, parte da glicose deixa de receber a ação do hormônio, não é absorvida e vai parar nos vasos sanguíneos, danificando tecidos. Ao longo do tempo, a pessoa pode tornar-se progressivamente resistente à insulina, que é o quadro típico do diabetes tipo 2. (1), (2)

Em uma pessoa adulta, considera-se obesidade quando o Índice de Massa Corporal (IMC) é igual ou maior que 30 kg/m2. Para se calcular esse valor, divide-se o peso em quilos (kg) pelo quadrado da altura em metros (por exemplo: se você tem 1,70 m, multiplica-se esse valor por seu igual: 1,70 m). É uma definição clássica, mas que não explica todos os fatores que levam ao aumento de peso — e que podem incluir elementos culturais, comportamentais, psicológicos, genéticos e hormonais, entre outros —, muito menos os desafios à saúde que a obesidade impõe. (1), (2), (3)

Para as mulheres, por exemplo, a obesidade, além de estar relacionada à resistência à insulina, também afeta a regulação de outros hormônios importantes para a saúde feminina. Mulheres vivendo com obesidade tendem a apresentar mais irregularidade menstrual e, além disso, têm menos chances de engravidar: 66% em 1 ano contra 81% das que têm peso normal. (4) A própria obesidade aumenta o risco obstétrico e de perda gestacional, sendo relacionada a um aumento do risco de câncer do endométrio, graças, entre outros fatores, à ação de adipocinas pró-inflamatórias, produzidas pelos adipócitos (células de gordura). (5)

Hormônios como o estrogênio e a testosterona também podem ser afetados pelo quadro de obesidade na mulher, e o diabetes tipo 2 desempenha aqui um papel fundamental. O aumento da insulina circulante no corpo, uma característica do diabetes tipo 2, reduz a ligação dos hormônios sexuais à chamada globulina de ligação a hormônios sexuais (SHBG), o que aumenta sua biodisponibilidade e conduz a desequilíbrios sistêmicos. (6), (7)

Funciona assim: produzida principalmente pelo fígado, a SHBG é responsável por regular a quantidade de hormônios sexuais no organismo. Livres na corrente sanguínea ou ligados à proteína albumina, os hormônios sexuais, como o estrogênio e a testosterona, estão biodisponíveis, ou seja, podem adentrar tecidos e produzir efeitos biológicos. No entanto, quando se ligam à SHBG, eles permanecem praticamente inativos, até que sejam liberados. (6)

A SHBG, portanto, não deixa que nosso corpo tenha um excesso de hormônios sexuais. Quando em bom funcionamento, apenas a quantidade necessária é utilizada; porém, se há menos ligação à SHBG, há mais biodisponibilidade desses hormônios, o que pode resultar em quadros como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), que, por sua vez, pode colocar o corpo em um outro ciclo de aumento de peso e disfunção hormonal. (7), (8), (9)

Gráfico

Riscos para as mulheres

Com a obesidade e o diabetes, mulheres podem desenvolver outras complicações, que incluem aumento da pressão arterial, SOP e irregularidade menstrual, além de osteoartrite, apneia do sono e risco aumentado para alguns tipos de câncer, como o de endométrio e o de mama, este último afetado pela desregulação de hormônios sexuais. O aumento da testosterona pela redução de ligação à SHBG também pode aumentar a ocorrência de acne, causar excesso de crescimento de pelos no corpo e afetar a libido e o humor. (6), (7), (9)

Para que esses riscos sejam diminuídos, é importante tratar a obesidade e, quanto mais cedo, melhor. A adoção de hábitos saudáveis, dieta equilibrada, atividade física regular e, em caso de necessidade, tratamento medicamentoso do diabetes tipo 2, podem conduzir o organismo a um melhor equilíbrio, contribuindo para a saúde, bem-estar e melhoria da qualidade de vida nas mulheres. (2)

 

 

Referências:
  1. World Health Organization (WHO). Obesity and overweight [Internet]. Genève: WHO; [cited 2019 Oct 3]. Available from: https://www.who.int/en/news-room/factsheets/detail/obesity-and-overweight
  2. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). Diretrizes Brasileiras de Obesidade. 4a ed. São Paulo: ABESO; 2016.
  3. Hruby A, Hu FB. The epidemiology of obesity: a big picture. Pharmacoeconomics. 2015;33(7):673–89.
  4. Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine. Obesity and reproduction: a committee opinion. Fertil Steril. 2015;104(5):1116–26.
  5. Maciel GAR. Epidemiologia da obesidade e suas implicações sobre a saúde global. In: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Obesidade na mulher. São Paulo: FEBRASGO; 2019. p. 1-8.
  6. Barber TM, Hanson P, Weickert MO, Franks S. Obesity and Polycystic Ovary Syndrome: implications for pathogenesis and novel management strategies. Clin Med Insights Reprod Health. 2019; 13:1179558119874042.
  7. Pinto CLB. Relação entre obesidade e SOP: implicações no diagnóstico, no metabolismo e no tratamento. In: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Obesidade na mulher. São Paulo: FEBRASGO; 2019. p. 55-68
  8. Ribeiro ALN, Macedo KS, Lima MAF. O impacto da obesidade na fertilidade masculina e feminina: uma revisão narrativa. Repositório Universitário da Ânima (RUNA). Universidade Potiguar; 2022. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/29307/1/Impacto%20da%20obesidade%20na%20fertilidade%20feminia%20e%20masculia.pdf
  9. Rodrigues CDC, Silveira CR, Cavarzan ID, Fonseca MZE, Martinho NCC, Leme TSN., et. al. Mecanismo fisiopatológico do desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 em pacientes portadoras de SOP obesas: revisão de literatura. Revista Científica das Faculdades de Medicina, Enfermagem, Odontologia, Veterinária e Educação Física da Universidade Metropolitana de Santos 2022;4(7). 
 
 
BR23DI00060 – Maio/2023

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